Faz apenas três semanas que estive aqui pela última vez. Parece-me que foi ontem que sentei nesta mesma cadeira de ferro, mas sinto como se um século todo tivesse se passado. Naquele dia também fazia muito calor e muitas crianças brincavam na fonte d’água. Outras pessoas liam seus livros e seus jornais, mas tudo parece tão igual. E é. Menos pra mim que estive tão longe nesse tempo. Após anos pegando as mesmas linhas de metrô para ir trabalhar, começara uma vida diferente. Tinha que acordar mais cedo, é verdade, mas agora ia caminhando, passando todos os dias de manhã pela ponte, aonde tinha a chance de suspirar com a paisagem, essa sim incapaz de me cansar. Aquela moça morena estava de volta, apesar de que eu ainda estranhava ter de dividir com alguém o último cigarro da noite. Valia a pena, já que agora havia alguém com quem dividir o resto da noite. Os livros foram abandonados e as notícias de jornais estavam altamente desinteressantes. Eu não me preocupava, sabia que tudo isso iria passar, como passou. Muita coisa aconteceu, eu soube aproveitar esse momento, mas era natural que aos pouco tudo fosse se acomodando. Não nas antigas posições, que fique claro, mas, sim, na nova ordem de uma nova vida. Eram as surpresas que, com o tempo, se tornavam realidade.
Agora, sob o efeito da poeira baixa, eu recuperava a curiosidade sobre os destinos de Raskólnikov. Era isso que me trazia de volta a esses jardins. Mas, com o livro no colo e o sol refletindo nos óculos escuros, eu sabia que estava apenas tentando retomar o meu dia-a-dia. É isso que, afinal, faz com que eu me sinta vivo.
Agora, sob o efeito da poeira baixa, eu recuperava a curiosidade sobre os destinos de Raskólnikov. Era isso que me trazia de volta a esses jardins. Mas, com o livro no colo e o sol refletindo nos óculos escuros, eu sabia que estava apenas tentando retomar o meu dia-a-dia. É isso que, afinal, faz com que eu me sinta vivo.