22 julho, 2006

Les Jardins du Luxembourg

Faz apenas três semanas que estive aqui pela última vez. Parece-me que foi ontem que sentei nesta mesma cadeira de ferro, mas sinto como se um século todo tivesse se passado. Naquele dia também fazia muito calor e muitas crianças brincavam na fonte d’água. Outras pessoas liam seus livros e seus jornais, mas tudo parece tão igual. E é. Menos pra mim que estive tão longe nesse tempo. Após anos pegando as mesmas linhas de metrô para ir trabalhar, começara uma vida diferente. Tinha que acordar mais cedo, é verdade, mas agora ia caminhando, passando todos os dias de manhã pela ponte, aonde tinha a chance de suspirar com a paisagem, essa sim incapaz de me cansar. Aquela moça morena estava de volta, apesar de que eu ainda estranhava ter de dividir com alguém o último cigarro da noite. Valia a pena, já que agora havia alguém com quem dividir o resto da noite. Os livros foram abandonados e as notícias de jornais estavam altamente desinteressantes. Eu não me preocupava, sabia que tudo isso iria passar, como passou. Muita coisa aconteceu, eu soube aproveitar esse momento, mas era natural que aos pouco tudo fosse se acomodando. Não nas antigas posições, que fique claro, mas, sim, na nova ordem de uma nova vida. Eram as surpresas que, com o tempo, se tornavam realidade.
Agora, sob o efeito da poeira baixa, eu recuperava a curiosidade sobre os destinos de Raskólnikov. Era isso que me trazia de volta a esses jardins. Mas, com o livro no colo e o sol refletindo nos óculos escuros, eu sabia que estava apenas tentando retomar o meu dia-a-dia. É isso que, afinal, faz com que eu me sinta vivo.

02 julho, 2006

Life Pursuit

Este cigarro ainda está quente do teu último trago. A porta não está toda fechada, mas aqui dentro ainda estão os medos e as angústias que te fizeram sair. Agora estás te jogando nos braços de um outro amor, mas as tuas lembranças estão guardadas em cada golpe de vista que eu dou nesse quarto. Aos poucos, outras histórias vão se somar às tuas, outros prazeres serão ouvidos por essas paredes. E o teu sabor vai escapar pela janela como a fumaça do cigarro que ainda tem o teu cheiro. Podes sair correndo, mas o que existe entre nós ainda vai queimar lentamente. Mas, eu bem sei, também vai se dissipar como o som dos seus sussurros. Será leve e dolorido, até o dia que eu já não mais saberei quem esteve aqui, e, muito tempo após essa tua fuga apressada, as paixões que um dia me confessaste me deixarão só. Talvez nos encontremos naquele café e você terá enfim aprendido a saborear um bom livro. Ou então, pode ser que sentemos no mesmo vagão do metrô e tu sejas apenas mais um rosto entre tantos. Eu já não posso saber dos teus passos se há muito não conheço teus caminhos. Meu deus, por onde andaste esse tempo todo? Parte agora que estás toda nua e deixa que eu termine esse último cigarro em que sentirei o gosto dos teus lábios. Sente-te livre para viveres o que desejares, pois nossas melhores lembranças não morrerão quando eu lavar o cinzeiro antes de sair para trabalhar.