24 abril, 2006

Yom Ha'Shoa - Dia de Memória do Holocausto

Existem momentos em que imagens dizem mais que palvras.

E a foto a cima, que mostra a tatuagem com o número de inscrição de uma prisioneira de um campo de concentração, representa todo o significado dessa data.

Ela traz a dor em si, guardada permanentemente na pele dos que testemunharam a industrialização da morte.

Mas, traz também a chama da lembrança, que jamais deverá ser apagada, impedindo o retorno do horror daqueles dias.

Am Israel Chai.
O povo de Israel vive.

E guardará para sempre as marcas de sua História.

Em homenagem às vítimas que perderam a vida nas mãos da Alemanha nazista.

23 abril, 2006

O corpo e a alma


Um texto de 27 de janeiro de 2006, fruto de uma viagem ao Peru.


"Escrevo a mais de 4.000 metros de altitude, em um acampamento no Caminho Inca, em plena Cordilheira peruana. Somente esta manhã, foram 5 horas de caminhada em subida e mais de 90 minutos de descida acentuada. O ar é notoriamente rarefeito e a chuva não dá trégua um momento sequer.

A dúvida então se torna natural. Para que escolher três dias de trilha se se pode chegar à mesma Macchu Piccu em um confortável trem? Pior, quanto maior a intensidade da chuva e a dureza da subida, mais forte se torna tal pergunta.

Mas, o fato é que a alma se renova com os percalços do corpo. E nós, ratos de cidade grande, vivemos uma ordem cruelmente diferente. Passamos a vida a nos desgastar fisicamente por conta das nossas preocupações, das mais consistentes às mais cotidianas. Não sabemos se o dinheiro vai dar, se vamos sofrer algum assalto ou violência pior, se o ônibus vai passar a tempo ou se o trânsito estará ao menos suportável. E, desse modo, terminamos um dia de trabalho – em que mal se levantou de uma cadeira – com a sensação de um atropelamento por caminhão.

No entanto, no momento em que um homem sedentário se propõe um desgastante desafio aventureiro, o peso da mochila sobre os ombros se torna tão intenso, que a alma ganha em leveza. A altitude não nos permite lembrar o poluído ar da metrópole e o barulho da chuva apaga da memória o vai-e-vem das grandes avenidas. Em suma, há tantas dores físicas a serem superadas que os problemas se tornam todos distantes. De cima dos Andes, é impossível enxergá-los. E, com a alma protegida de seus inimigos diários, temos uma melhor visão de quem somos, o que queremos e o que buscamos.

Depois de um dia de tão pesada caminhada, vêem-se as dúvidas existencias perderem sentido, enquanto brilha, com inacreditável força, a grandiosidade que ilumina a alma de cada um de nós."

19 abril, 2006

Terror

Tentou-se escrever, aqui, algo sobre o atentado terrorista que matou 9 pessoas em uma lanchonete de Tel Aviv na última segunda-feira.

Na verdade, foram 10 as vítimas. Mas, a 10ª foi o próprio assassino, um garoto palestino de 16 anos que optou por matar e morrer.

Também sofrerão eternamente as consequências desse crime aqueles que perderam mãos, pernas, olhos, a própria dignidade. Sem falar nos parentes das vítimas, como a mãe da foto que ilustra o post.

Tentou-se, mas não se conseguiu. Não há o que dizer sobre esses assasinatos em massa que já foram rotina em Israel, mas que chocam e emocionam como se fosse a primeira vez.

O local - onde se vende Shuarma e Falafel, pratos típicos da região - ganhará placas, flores e lágrimas, tudo em memória dos que morreram.

A vida seguirá nesse pequeno grande país, cheio de erros e acertos, glórias e lágrimas.

Sem jamais esperar pelo próximo suicida, por mais que eles sempre insistam em vir.



p.s.: Gabo, autor de um dos blogs que figuram aqui ao lado (23ª idade), foi brilhante ao escrever sobre o mesmo fato. Leia aqui.

17 abril, 2006

Marisa, Chico e iPod

Marisa Monte é símblo do que há de mais moderno na MPB. É concreta, é tribalista.

Chico Buarque é clássico. Mestre das canções de protesto e das vozes femininas. Maior ícone vivo da MPB.

iPod é a mais recente revolução na indústria fonográfica. Um aparelhinho do tamanho de um celular que permite armazenar até 15.000 músicas, além de fotos e vídeos, tudo em formato eletrônico. Será responsável pela aposentadoria do compact disc, o popular CD.

Marisa lançou, no mês passado os seus mais novos trabalhos. Trata-se dos discos Infinito Particular e Universo ao Meu Redor, ambos lançado pela gravadora EMI.

Chico apresentará, mês que vem, o seu primeiro disco de inéditas desde 1998. Carioca é também a sua estréia na Biscoito Fino.

Os dois discos recentes de Marisa possuem um sistema anti-parataria que não permitem que as músicas sejam passadas para um iPod. Ao menos não em um primeiro momento, já que qualquer leigo é capaz de driblar a tal proteção.

Por sua vez, a Biscoito Fino anunciou que o novo disco de Chico não trará qualquer impedimento em relação a iPod.

E aí, quem é "clássico" e quem é "moderno"?


p.s.: Para ter os discos de Marisa no iPod basta fazer um cópia, sendo que o próprio dispositivo permite que se faça até 3. Pronto. A cópia transita facilmente por iTunes, iPod, Media Player, etc.

16 abril, 2006

Admirável Novo Mundo

Mês passado, quando Lula esteve em Londres para um cerimoniosa visita de Estado, não faltaram jornais britânicos elogiando a atuação do presidente-companheiro.

Na última semana, mais um importante jornal europeu rendeu elogios ao presidente Lula.

Foi a vez do francês Le Monde exaltar o brasileiro em seu editorial de sexta-feira, 14/04/06. Comentando a guinada à esquerda que toma conta de toda a América Latina, o diário mostra Lula como um exemplo a ser seguido, diferentemente de seu colega venezuelano Hugo Chávez, que, segundo o jornal, vira as costas e desafia a Globalização. Lula, esse sim, comanda uma política responsável que visa inserir seu país na economia mundial, sempre segundo o Monde.

Nada sobre caseiro, mensalão ou a gangue dos 40 ladrões.

Nada sobre o já conhecido projeto petista de se perpetuar no poder.

Não é uma questão de julgar se o governo Lula é bom ou ruim. Mas o quanto isso é irrelevante para os europeus.

Em Paris, deve ser cult gostar de Lula. Os intelectuais de esquerda de lá devem adorar ver um ex-metalúrigico, cuja mãe nasceu analfabeta (!), desfilar por aí seu bom comportamento para com os mercados internacionais.

Mas, não teriam o mesmo comportamento se vissem um ministro de sua respeitável República ordenar que um banco estatal sob sua chefia quebre, stalinisticamente, o sigilo bancário de um cidadão que o acusa de cometer irregularidades.

Não demoraria nada até que todas as ruas do país estivessem tomadas de pessoas furiosas.

Mas, antes, cada uma trataria de ir correndo sacar todo o seu dinheiro depositado no tal banco estatal fradulento.

Parece que não é à toa que os latino-americanos têm preferidos líderes ultra-nacionalistas. Mesmo sendo contra a opinião dos companheiros europeus.

Clóvis Rossi

O título desse post é também o nome do principal colunista e repórter da Folha de S. Paulo.

Também o melhor de todos, na humilde opinião desse blog.

Em sua coluna diária, às vezes escreve textos bons, outras vezes textos ótimos e, em algumas ocasiões, textos sensacionais, capazes de dizer tudo em tão pouco.

Neste último domingo, Rossi ficou com a terceira opção.

Trouxe o poeta Drummond para tentar explicar - como se fosse possível - o triste jogo da política tupiniquim.

Assinantes da Folha e do UOL lêem aqui.


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ander_laine sugeriu. O blogue achou válido.

Afinal, é uma grande pretensão considerar que publicar o texto aqui nesse espaço é uma forma de pirataria.

E fica a dica para que os três leitores criem o hábito de ler esse gigante do jornalismo brasileiro.

Todos lêem aqui.

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CLÓVIS ROSSI

Clubinho Brasil

SÃO PAULO - Era uma vez Itamar Franco, que não amava Fernando Collor de Mello, mas a ele aliou-se para derrotarem juntos Luiz Inácio Lula da Silva, que odiava Fernando Collor e não amava Itamar Franco, até porque não amava ninguém a não ser ele próprio.

Era uma outra vez Itamar Franco, que passou a odiar Fernando Collor a ponto de romper com ele, mas sem reatar com Luiz Inácio Lula da Silva, que vingou-se de Fernando Collor juntando-se a tantos que antes desprezava para liderarem o processo de impeachment.

Era uma terceira vez Itamar Franco, que ungiu Fernando Henrique Cardoso ministro da Fazenda, fabricando sem o saber (ah, como os presidentes sabem pouco) o futuro presidente, que Lula odiaria.

Era uma quarta vez Itamar Franco, que aceitou ser embaixador de Fernando Henrique Cardoso, que ele às vezes amava, outras odiava e com o qual vivia entre tapas e beijos até algo parecido com o rompimento.

Era uma quinta vez Itamar Franco, aquele que silenciou quando Fernando Collor usou na TV o caso da filha de Lula fora do casamento, mas que acabou aliando-se a Lula, finalmente presidente, que o nomeou embaixador, tal como o fizera Fernando Henrique Cardoso, que, no entanto, legara a Lula uma "herança maldita", segundo José Dirceu, que também não ama ninguém, a não ser ele próprio e seu projeto de poder, que foi seriamente avariado, talvez destruído, por Roberto Jefferson, que era da tropa de choque de Fernando Collor, passou à tropa de choque de Lula e, por fim, detonou com um grito de "sai daí" o Zé desta história.

Era uma vez, por fim, o Zé desta história, agora chamado de chefe de quadrilha pelo procurador-geral da República, que vai de jatinho particular a Juiz de Fora para, segundo alguns colunistas, convidar Itamar Franco para ser vice de Lula, como fora de Collor, com o que se encontram o começo e o fim da quadrilha (no sentido Drummond).

(Folha de S. Paulo, 16/04/06)

13 abril, 2006

Uma festa

Pessach também é conhecida como a Páscoa Judaica. Mas, seria muito mais coerente chamar de Sete de Setembro Judaico.
Afinal, nesta data, comemora-se a independência do povo judeu, isto é, o dia em que deixaram o Egito - aonde tinham chegado quando eram apenas uma família - após séculos de escravidão.
Entretanto, a essência do chag (festa, em hebraico) vai bem mais além da história bíblica conhecida por todos, ou quase todos.
Diz-se, que nesse dia, cada judeu deve se sentir como se ele próprio tivesse saído do Egito. Cada um tem de sentir na pele ao menos parte daquilo que seus antepassados sentiram, desde os dias da escravidão, até a conquista da liberdade.
Desse modo, trazemos para o presente um fato histórico ocorrido há milênios. Ao transportar amostras dos sofrimentos e alegrias daqueles que o viveram, é possível também resgatar valores e lições.
Primeiramente, lembramos os ideias de liberdade. Nos nossos dias, vivendo em mundo aparentemente democrático, essas noções podem perder um pouco de sentido. Mas, é preciso lembrar que ainda hoje, em diversas partes do planeta, há pessoas discriminadas, presas e até assassinadas por sua origens ou convicções. E, se voltarmos segundos na História, encontraremos os Campos de Concentração e as fogueiras da Inquisição. Assim, a festa de Pessach nos ensina que em qualquer momento, lugar ou ocasião, há que se sentir a dor daqueles cujas mãos ainda estão amarradas e há que se recordar do júbilo da libertação, lutando eternamente pela conquista desse direito irrevogável.
Outra grande lição que aprendemos diz respeito à necessidade de se recordar a História daqueles que nos precederam. E nesse ponto os judeus são quase infalíveis. Alguns preferem chamar de mania de perseguição, mas o fato é que jamais uma atrocidade cometida ao longo do tempo contra esse povo foi esquecida. E, mais importante de tudo, é que essa imortal chama da lambrança não tem como objetivo cristalizar ódios, mas apenas evitar que novos crimes e matanças sejam cometidos. É evidente que muitos outros povos também foram perseguidos, talvez até de forma mais intensa. Mas, se ainda hoje os judeus estão vivos e atuantes para contar a sua História, é apenas porque foram capazes de lembrá-la ao longo dos séculos.
Enfim, esse é o sentimento que faz com todos os judeus do mundo, marroquinos, poloneses ou brasileiros se sintam tão próximos. Afinal, todos eles, independente dos costumes, da língua ou da cor dos olhos, guardam dentro de si a imensa dor da escravidão e a infindável alegria da liberdade.

Chag Sameach

11 abril, 2006

O dia em que Nietzche quis ser Homer

Naquele dia foi assim
O filósofo decidiu ser mais um
Quis até virar cartum
Saber era seu fim

Estava cansado da leitura
Aquela de olhos cansados
Pelos olhos afogados
E que na mente só causa mistura

Queria a felicidade fácil
Aquela que vem do nada
Seria ele a pessoa amada
E só por si seria ágil

Estava farto da inteligência
Rejeitaria o que aprendeu
Viveria do que não leu
Pela alegria, pedia clemência

Mas quando o dia terminou
A testa então se reaqueceu
A dor de cabeça retornou
O inferno outra vez se acendeu

Um comentário

Um amigo, desses que não se encontra em qualquer pessoa, teve isso a dizer sobre o post anterior. Vale a pena ler.

"A liberdade, não é verdade? Muito boa, muito bonita, muito almejada; quanto mais andamos mais perto estamos de atingí-la A úiltima risca de giz deve ser a liberdade total; e se ela não existir, quanto mais longe mais perto de algo que chamamos de liberdade. Não sei, por outro lado, se a última risca de giz existe, posso começar a andar, logo depois a correr, onde vou chegar? Posso ficar obcecado por algo que eu não consigo enxergar, por algo que eu não sei se existe. Posso ficar obsecado por algo que, alias, eu nem acredito que exista. Estarei, então, correndo para fora e desde o começo estarei dando as costas para o centro de todos os ciclos. Estarei correndo e, cada vez mais, distanciando-me do ponto que deixa-me mais perto de tudo; estarei correndo e estarei mais longe de poder olhar para todos os lados com o mesmo valor, com o mesmo peso, com a mesma intensidade. Estarei eu correndo para a liberdade e perdendo-a ao mesmo tempo? Quem sabe o centro não é a resposta, de lá pode-se ver muito, com a mesma intensidade para todos os lados. Será que corremos para fora para fugir do centro, para não vê-lo? O que tem o centro para nos mostrar? Será ele nossa terra, nosso lugar?? "

Valeu, Ron.

Um blog

"Um peru, segundo se diz, metido no centro de um círculo traçado a giz no chão, se julga irremediavelmente priosioneiro dele. Um dia, achei que devia correr para a liberdade, saltando o risco de giz. Cortei as amarras que me prendiam a todas as convenções sociais e a esse manso comodismo dos hábitos. Dei o salto... E agora, moendo e remoendo experiências recentes, comparando-as com as antigas, chego à conclusão de que a vida não passa de uma sucessão numerosa de círculos de giz concêntricos. A gente salta por cima de um apenas para verificar depois que está prisioneiro de outro e assim por diante. É a condição humana."
(Erico Verissimo, em Saga)
Livros, discos, amigos, baladas, risadas, viagens, experiências que se acumulam. É dessa mistura de cores que nasce o meu canto. É isso que me leva a continuar, a seguir essa tal condição humana, lutando sempre para ser capaz de dar o próximo salto.
Esse blog é a tentativa de processar toda essa informação, transformado em palvras o que se viu, o que se escuta.
E assim, passar por cima de mais um círculo de giz.
Até que venha o próximo.
E depois o próximo.
É a condição humana.