30 maio, 2006

respondendo e-mail ou o trem da vida

"É verdade que talvez a modernidade tenha tirado um pouco do romantismo dos nossos dias. O excesso de informação deixou o homem nu, cru diante do mundo. Mas eu não gosto de saudosismo e, como você mesmo disse, é chato viver comparando com épocas do passado. Mesmo porque, garanto que a nossa vida hoje é melhor do que na Idade Média e daí por diante. (Melhor não quer dizer mais fácil!). Mas quanto à questão dos objetivos... Pensando geometricamente, o objetivo de vida de uma pessoa não deve ser um ponto, e, sim, uma reta. Não devemos nos preocupar com "aonde vamos chegar", mas "que caminho vamos traçar". Para alguns, talvez, o importante seja juntar bastante dinheiro ao longo desse caminho. Outros só se preocupam com quantas mulheres vão comer. Existem até os que colecionam boas ações ao longo do trajeto... O que importa é que possamos estar sobre os trilhos adequados em cada fase da vida. Porque é bom que fique claro que não há um só caminho para toda a vida. Sim, nós podemos mudar de idéia, não é fantástcio? Agora, qual é o caminho certo?! A única certeza, é que somente a própria pessoa é capaz de saber. Verdade universal, caminho correto para todos, infelizmente não existe. Digo infelizmente, porque se houvesse, nesse momento, muito mais pessoas estariam bebendo cerveja e muito menos homens morreiram em guerras e atentados. É isso, meu caro. Estou de partida para Buenos Aires. Conversamos na volta. Abraços."

21 maio, 2006

Pra delírio da fiel...

Pobre nação corintiana, não tem vivido os melhores de seus dias. Os péssimos resultados da temporada e a trágica eliminação da Libertadores – o eterno sonho – fez inchar a cabeça de todo bom fiel torcedor.
Mas, a rodada desse final de semana do Campeonato Brasileiro deu motivos para o corintiano voltar a ensaiar um sorriso. Um jogo que parecia perdido e um time que não se achava em campo se desenhava como o retrato do confronto de domingo contra o Vasco no estádio de São Januário no Rio de Janeiro. E assim foi, enquanto o time da casa vencia fácil por dois gols de diferença e a zaga paulista era um carrossel de diversões para Edílson e cia. Foi, mas deixou de ser quando Carlos Alberto fez duas ótimas jogadas pela direita e Rafael Moura – substituto do adorado Carlitos Tevez – converteu ambas no empate corintiano.
Com duas expulsões para cada lado e a incrível reação corintiana, o jogo já estava suficientemente movimentado e qualquer uma das equipes poderia vencer. Mas, a diferença quem fez foi o corintiano Nilmar, que pouco produtivo ao longo da partida, decidiu tomar os últimos dez minutos para justificar aqueles que defenderam a inclusão de seu nome na lista de convocados do técnico da Seleção Brasileira, Carlos Alberto Parreira. Em duas jogadas maravilhosas, o atacante obrigou o goleiro vascaíno a derrubá-lo na área e cometer dois pênaltis quase consecutivos, sendo advertido na primeira vez e expulso na segunda. Carlos Alberto, e depois o capitão Marcelo Mattos fizeram para o Timão. Final, Corinthians 4, Vasco 2. O time pode não ter convencido pelo futebol, mas a torcido sofreu com gosto, ao seu modo tradicional. Graças a D’us.

17 maio, 2006

Medo

A cidade está em pânico lá fora. Não se sabe mais o que é matar ou morrer. Todos fogem desesperados para suas casas, ouvem-se buzinas, que soam como se fossem tiros. A televisão berra desesperadamente, as crianças choram. É uma guerra, não há dúvidas. E parece que vivemos agora a pior de todas as batalhas. Já não há mais como disfarçar o nosso medo de todo dia, que vive enrustido em carros blindados, sistemas de segurança e cinemas trancafiados em shopping centers.
Políticos de olhares sombrios e sobrancelhas fartas mentem. Dizem que tudo está bem da mesma forma cínica com que se defendem das violências que produzem vestidos de terno e gravata. E, pior, trocam acusações eleitoreiras, reiterando a já sabida indiferença para com o povo e voraz sede de poder.
Nós, aqui embaixo, pegamos nossos carros, encaramos o trânsito e fingimos que estamos seguros em nossas casas. Doce ilusão dos que se acostumaram a viver sob a dura realidade do crime que compensa.
Mas, no fundo, ainda se pode ouvir um abafado cantar de esperança. É quando o nosso horror permanente se torna ainda pior que mostramos o nosso último resquício de coragem: ainda não perdemos a vital capacidade de sentir medo.

14 maio, 2006

If you are feeling sinister

Chega. Hoje eu não vou atender mais ninguém, nem muito menos perder chamadas. Desliguei o celular. Preciso dessa liberdade. Odeio esses aperelhos. Alguém, em alguma parte do mundo, digita alguns números e então as ondas telefônicas saem em uma cruel caçada até você...
Eu não posso. Bata até suas mãos caírem, mas eu não vou abrir a porta, não vou atender o celular. Não me importa quem seja, nem muito menos o que quer. Eu desejo a liberdade de viver sem passado, de não ter memória, de não possuir qualquer vínculo. Eu quero pensar em mim, saborear as minhas experiências. Eu tenho que poder fazer tudo isso escondido do mundo, longe de qualquer interferência e a salvo de rajadas eletromagnéticas.
Eu só peço que me deixem sozinho, em paz com uma boa bebida, um cigarro e um disco tocando de fundo. É preciso muita concentração, mas eu preciso acreditar, nem que seja por um minuto, que eu posso viver tudo de uma forma diferente...

08 maio, 2006

É melhor viver do que ser feliz

...calma, pronto, já passou. Foi tudo um susto. Nada daquilo que você viu era de verdade. A ponte continua de pé, os cigarros ainda estão aqui. Muitas coisas mudaram, é verdade. Mas, tudo, com o tempo, se ajeita. Aos poucos a gente vai aprendendo a se adaptar. Além do mais, a garrafa vai estar sempre aqui e o copo pode se encher quando você quiser. É normal, neurônios também precisam ser sedados quando passam por intensas intervenções cirúrgicas. E você ta passando por uma delas, não tá? Então pra que se preocupar tanto? Garanto que você se levanta melhor depois de um tombo desses. E se não fosse isso, qual seria a graça? Correr, brincar, pular, cantar entre os lírios! Ora, convenhamos, isso é patético, nulo! Mesmo porque, esses caras todos que você lê e escuta, tiveram que tropeçar muito antes de criar essa “sensibilidade artística” de que você tanto gosta. Não tem milagre, meu filho! Quer ser profundo, então tem que ir lá embaixo! E não seja ingênuo de achar que a alma humana é essa coisa linda que as pessoas desfilam por aí. Vai, levanta e pega mais um whisky. Esse papo de ficar se consolando tá me deixando meio tonto...

05 maio, 2006

Um passo atrás

Naquela manhã, ela disse bem mais do que devia. Tudo começara em tom de brincadeira – como sempre - mas não era nem mais nem menos do que sentia. Seu coração estava naquelas palavras, mas sabia que ele só fora capaz de encontrar mais dúvidas e ressentimentos.

O resto do dia, claro, foi de reflexão. A trilha sonora, a mesma. Aquela cantora que só fazia sentido ouvir se estivesse com ele, fosse nos braços, fosse no pensamento. Mas não o disco antigo, carregado de recordações, e, sim, o novo, comprado dias antes. Mas afinal, o que fazia um sentimento tão verdadeiro só ser capaz de sobreviver à distancia? Juntos, eles se sufocaram, mas agora, há meses sem se ver, era a saudades que apertava. O mais fácil, talvez, seria chegar em casa e rabiscar sobre as mesmas infelicidades de sempre. O caderno entenderia, o lápis seria seu cúmplice. Mas as insistentes respostas fáceis e mentirosas já não mais surtiam efeito. De fato, ela perdera a pretensão de encontrar a verdade.

Distantes, eles não se preocupavam em acertar, muito menos se questionavam sobre o rumo das palavras. Apenas diziam e sentiam, agindo com a mente e o coração distraídos. Possuíam o único privilégio de quem olha para os tempos que já passaram, o de ver com muito mais brilho os momentos mágicos. Aqueles que se tornam inesquecíveis.

É claro. A repulsão não estava nos sentimentos de ambos. Encontrava-se na falta de sintonia entre o apego e a concentração. Para viverem juntos, era preciso deixar acontecer, soltar, distrair. Próximos, teimavam em ver cada detalhe do Monet, bem de perto. Saudosos, davam um passo atrás.

02 maio, 2006

Ben Gurion e Clóvis Rossi

Clovis Rossi já é assunto repetido nesse blog e não faltam razões para que assim continue a ser.

Mas, dessa vez, é cheio de vaidade que reproduzo o artigo do colunista do último sábado, dia 29/04/06.

Valeu, Rossi.


CLÓVIS ROSSI

O difícil e o impossível

SÃO PAULO - A propósito do texto publicado ontem neste espaço, sobre a necessidade de um grande sonho para fazer um grande país, o leitor Eduardo Gabor manda a seguinte frase de David Ben Gurion, o estadista judeu que foi o maior responsável pela criação do Estado de Israel: "O difícil a gente faz imediatamente. O impossível leva um pouco mais de tempo".

Compare, por favor, com a seguinte frase de Luiz Inácio Lula da Silva: "O governo tenta fazer o simples, porque o difícil é difícil" (discurso na 1ª Conferência Nacional do Esporte, em 17 de junho de 2004).

Agora compare os contextos: Ben Gurion soltou sua frase numa época em que os judeus haviam sido exterminados pelo Holocausto (ainda hoje, o Estado de Israel tem menos habitantes do que o número de mortos nos anos 40 do século passado).

Época também em que começavam a construir o Estado judeu, num território pequeno, não exatamente abençoado em recursos naturais e cercado de inimigos por todos os lados (ainda hoje, Israel está tecnicamente em guerra com dois de seus quatro vizinhos).

Nem precisaria dizer as vantagens teóricas do Brasil, mas não custa dar a palavra a outro leitor, Edwin Lima, salvadorenho que estudou no Brasil, vive em Amsterdã (Holanda) e está de passagem pelo país: "Não é possível que um país celeiro do mundo, maior fornecedor de commodities, com as maiores reservas naturais do planeta, com uma das maiores economias do mundo, se veja reduzido a apenas dois fatores: governo e gestão da dívida".

Faltou dizer que, nesta revisita ao país, Lima diz que "nada parece ter mudado, ou, se mudou, só não foi para melhor".

Faltou também dizer que a culpa não é só dos governos sucessivos, segundo o leitor Carlos Hugo Sgarbi. "O Brasil e os brasileiros são iguais ao alfaiate do interior: medem grande e cortam curto", escreve.

Se alguém descobrir um alfaiate tipo Ben Gurion por aí, avise a mim e aos leitores citados.


p.s: O post é publicado em homenagem à Independência de Israel, proclamada há exatos 58 anos por David Ben Gurion