13 agosto, 2006

treze-de-agosto

Aquela era o seu primeiro aniversário no apartamento com vista para o Central Park. Era o fim da noite de um dia longo. Tinha falado com todos os amigos e parentes, recebidos votos de todos os tipos de felicidade, sempre respondendo com um simples “obrigado”.
Tomava a sua cerveja como fazia sempre desde que se mudara para Nova York. Pensava na vida no Brasil e em como tudo mudara desde o embarque naquele avião sem que ninguém soubesse com antecedência. Estava lá para, enfim, terminar de escrever o romance que ocupara sua existência nos últimos três anos. Mas, nada saia como previsto e era muito difícil pensar em ponto final quando tantas coisas novas aconteciam diante de si. A mudança com jeito de fuga e as surpresas daquela cidade louca lhe embaralhavam as idéias e o livro acabara ficando quase abandonado e cada vez mais distante de um final.
Por mais que era difícil e estranho passar aquela data longe de todos, não conseguia supor a hipótese de voltar. O antes não lhe parecia real. Até porque, era real demais para alguém que, agora, se alimentava do lúdico.
Eram sobre essas dores que divagava quando a campainha tocou. Quem poderia ser a essa hora, com quem ainda não tinha falado, quem, afinal, seria capaz de adivinhar a combinação de números para digitar a senha, entrar no prédio e estar a apenas alguns passos dali? Quem?
Quando a viu, diante dele, trazendo apenas aquele sorriso pelo qual se apaixonara um dia, um pensamento preencheu o fatídico aniversário. Datas “especiais”, às vezes, são apenas álibis para fazermos tudo aquilo que nos dá medo.

2 comentários:

Anônimo disse...

wow...

carolina disse...

caro eduardo. você me arrepiou dos pés à cabeça com este último parágrafo. parabéns, parabéns duplo por esse treze de agosto. beijos.