30 maio, 2006
respondendo e-mail ou o trem da vida
21 maio, 2006
Pra delírio da fiel...
Pobre nação corintiana, não tem vivido os melhores de seus dias. Os péssimos resultados da temporada e a trágica eliminação da Libertadores – o eterno sonho – fez inchar a cabeça de todo bom fiel torcedor.
Mas, a rodada desse final de semana do Campeonato Brasileiro deu motivos para o corintiano voltar a ensaiar um sorriso. Um jogo que parecia perdido e um time que não se achava em campo se desenhava como o retrato do confronto de domingo contra o Vasco no estádio de São Januário no Rio de Janeiro. E assim foi, enquanto o time da casa vencia fácil por dois gols de diferença e a zaga paulista era um carrossel de diversões para Edílson e cia. Foi, mas deixou de ser quando Carlos Alberto fez duas ótimas jogadas pela direita e Rafael Moura – substituto do adorado Carlitos Tevez – converteu ambas no empate corintiano.
Com duas expulsões para cada lado e a incrível reação corintiana, o jogo já estava suficientemente movimentado e qualquer uma das equipes poderia vencer. Mas, a diferença quem fez foi o corintiano Nilmar, que pouco produtivo ao longo da partida, decidiu tomar os últimos dez minutos para justificar aqueles que defenderam a inclusão de seu nome na lista de convocados do técnico da Seleção Brasileira, Carlos Alberto Parreira. Em duas jogadas maravilhosas, o atacante obrigou o goleiro vascaíno a derrubá-lo na área e cometer dois pênaltis quase consecutivos, sendo advertido na primeira vez e expulso na segunda. Carlos Alberto, e depois o capitão Marcelo Mattos fizeram para o Timão. Final, Corinthians 4, Vasco 2. O time pode não ter convencido pelo futebol, mas a torcido sofreu com gosto, ao seu modo tradicional. Graças a D’us.
17 maio, 2006
Medo
Políticos de olhares sombrios e sobrancelhas fartas mentem. Dizem que tudo está bem da mesma forma cínica com que se defendem das violências que produzem vestidos de terno e gravata. E, pior, trocam acusações eleitoreiras, reiterando a já sabida indiferença para com o povo e voraz sede de poder.
Nós, aqui embaixo, pegamos nossos carros, encaramos o trânsito e fingimos que estamos seguros em nossas casas. Doce ilusão dos que se acostumaram a viver sob a dura realidade do crime que compensa.
Mas, no fundo, ainda se pode ouvir um abafado cantar de esperança. É quando o nosso horror permanente se torna ainda pior que mostramos o nosso último resquício de coragem: ainda não perdemos a vital capacidade de sentir medo.
14 maio, 2006
If you are feeling sinister
Chega. Hoje eu não vou atender mais ninguém, nem muito menos perder chamadas. Desliguei o celular. Preciso dessa liberdade. Odeio esses aperelhos. Alguém, em alguma parte do mundo, digita alguns números e então as ondas telefônicas saem em uma cruel caçada até você...
Eu não posso. Bata até suas mãos caírem, mas eu não vou abrir a porta, não vou atender o celular. Não me importa quem seja, nem muito menos o que quer. Eu desejo a liberdade de viver sem passado, de não ter memória, de não possuir qualquer vínculo. Eu quero pensar em mim, saborear as minhas experiências. Eu tenho que poder fazer tudo isso escondido do mundo, longe de qualquer interferência e a salvo de rajadas eletromagnéticas.
Eu só peço que me deixem sozinho, em paz com uma boa bebida, um cigarro e um disco tocando de fundo. É preciso muita concentração, mas eu preciso acreditar, nem que seja por um minuto, que eu posso viver tudo de uma forma diferente...
08 maio, 2006
É melhor viver do que ser feliz
...calma, pronto, já passou. Foi tudo um susto. Nada daquilo que você viu era de verdade. A ponte continua de pé, os cigarros ainda estão aqui. Muitas coisas mudaram, é verdade. Mas, tudo, com o tempo, se ajeita. Aos poucos a gente vai aprendendo a se adaptar. Além do mais, a garrafa vai estar sempre aqui e o copo pode se encher quando você quiser. É normal, neurônios também precisam ser sedados quando passam por intensas intervenções cirúrgicas. E você ta passando por uma delas, não tá? Então pra que se preocupar tanto? Garanto que você se levanta melhor depois de um tombo desses. E se não fosse isso, qual seria a graça? Correr, brincar, pular, cantar entre os lírios! Ora, convenhamos, isso é patético, nulo! Mesmo porque, esses caras todos que você lê e escuta, tiveram que tropeçar muito antes de criar essa “sensibilidade artística” de que você tanto gosta. Não tem milagre, meu filho! Quer ser profundo, então tem que ir lá embaixo! E não seja ingênuo de achar que a alma humana é essa coisa linda que as pessoas desfilam por aí. Vai, levanta e pega mais um whisky. Esse papo de ficar se consolando tá me deixando meio tonto...
05 maio, 2006
Um passo atrás
O resto do dia, claro, foi de reflexão. A trilha sonora, a mesma. Aquela cantora que só fazia sentido ouvir se estivesse com ele, fosse nos braços, fosse no pensamento. Mas não o disco antigo, carregado de recordações, e, sim, o novo, comprado dias antes. Mas afinal, o que fazia um sentimento tão verdadeiro só ser capaz de sobreviver à distancia? Juntos, eles se sufocaram, mas agora, há meses sem se ver, era a saudades que apertava. O mais fácil, talvez, seria chegar em casa e rabiscar sobre as mesmas infelicidades de sempre. O caderno entenderia, o lápis seria seu cúmplice. Mas as insistentes respostas fáceis e mentirosas já não mais surtiam efeito. De fato, ela perdera a pretensão de encontrar a verdade.
Distantes, eles não se preocupavam em acertar, muito menos se questionavam sobre o rumo das palavras. Apenas diziam e sentiam, agindo com a mente e o coração distraídos. Possuíam o único privilégio de quem olha para os tempos que já passaram, o de ver com muito mais brilho os momentos mágicos. Aqueles que se tornam inesquecíveis.
É claro. A repulsão não estava nos sentimentos de ambos. Encontrava-se na falta de sintonia entre o apego e a concentração. Para viverem juntos, era preciso deixar acontecer, soltar, distrair. Próximos, teimavam em ver cada detalhe do Monet, bem de perto. Saudosos, davam um passo atrás.
02 maio, 2006
Ben Gurion e Clóvis Rossi
Mas, dessa vez, é cheio de vaidade que reproduzo o artigo do colunista do último sábado, dia 29/04/06.
Valeu, Rossi.
CLÓVIS ROSSI
O difícil e o impossível
SÃO PAULO - A propósito do texto publicado ontem neste espaço, sobre a necessidade de um grande sonho para fazer um grande país, o leitor Eduardo Gabor manda a seguinte frase de David Ben Gurion, o estadista judeu que foi o maior responsável pela criação do Estado de Israel: "O difícil a gente faz imediatamente. O impossível leva um pouco mais de tempo".
Compare, por favor, com a seguinte frase de Luiz Inácio Lula da Silva: "O governo tenta fazer o simples, porque o difícil é difícil" (discurso na 1ª Conferência Nacional do Esporte, em 17 de junho de 2004).
Agora compare os contextos: Ben Gurion soltou sua frase numa época em que os judeus haviam sido exterminados pelo Holocausto (ainda hoje, o Estado de Israel tem menos habitantes do que o número de mortos nos anos 40 do século passado).
Época também em que começavam a construir o Estado judeu, num território pequeno, não exatamente abençoado em recursos naturais e cercado de inimigos por todos os lados (ainda hoje, Israel está tecnicamente em guerra com dois de seus quatro vizinhos).
Nem precisaria dizer as vantagens teóricas do Brasil, mas não custa dar a palavra a outro leitor, Edwin Lima, salvadorenho que estudou no Brasil, vive em Amsterdã (Holanda) e está de passagem pelo país: "Não é possível que um país celeiro do mundo, maior fornecedor de commodities, com as maiores reservas naturais do planeta, com uma das maiores economias do mundo, se veja reduzido a apenas dois fatores: governo e gestão da dívida".
Faltou dizer que, nesta revisita ao país, Lima diz que "nada parece ter mudado, ou, se mudou, só não foi para melhor".
Faltou também dizer que a culpa não é só dos governos sucessivos, segundo o leitor Carlos Hugo Sgarbi. "O Brasil e os brasileiros são iguais ao alfaiate do interior: medem grande e cortam curto", escreve.
Se alguém descobrir um alfaiate tipo Ben Gurion por aí, avise a mim e aos leitores citados.
p.s: O post é publicado em homenagem à Independência de Israel, proclamada há exatos 58 anos por David Ben Gurion