17 maio, 2006

Medo

A cidade está em pânico lá fora. Não se sabe mais o que é matar ou morrer. Todos fogem desesperados para suas casas, ouvem-se buzinas, que soam como se fossem tiros. A televisão berra desesperadamente, as crianças choram. É uma guerra, não há dúvidas. E parece que vivemos agora a pior de todas as batalhas. Já não há mais como disfarçar o nosso medo de todo dia, que vive enrustido em carros blindados, sistemas de segurança e cinemas trancafiados em shopping centers.
Políticos de olhares sombrios e sobrancelhas fartas mentem. Dizem que tudo está bem da mesma forma cínica com que se defendem das violências que produzem vestidos de terno e gravata. E, pior, trocam acusações eleitoreiras, reiterando a já sabida indiferença para com o povo e voraz sede de poder.
Nós, aqui embaixo, pegamos nossos carros, encaramos o trânsito e fingimos que estamos seguros em nossas casas. Doce ilusão dos que se acostumaram a viver sob a dura realidade do crime que compensa.
Mas, no fundo, ainda se pode ouvir um abafado cantar de esperança. É quando o nosso horror permanente se torna ainda pior que mostramos o nosso último resquício de coragem: ainda não perdemos a vital capacidade de sentir medo.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando que, também, sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão"