05 maio, 2006

Um passo atrás

Naquela manhã, ela disse bem mais do que devia. Tudo começara em tom de brincadeira – como sempre - mas não era nem mais nem menos do que sentia. Seu coração estava naquelas palavras, mas sabia que ele só fora capaz de encontrar mais dúvidas e ressentimentos.

O resto do dia, claro, foi de reflexão. A trilha sonora, a mesma. Aquela cantora que só fazia sentido ouvir se estivesse com ele, fosse nos braços, fosse no pensamento. Mas não o disco antigo, carregado de recordações, e, sim, o novo, comprado dias antes. Mas afinal, o que fazia um sentimento tão verdadeiro só ser capaz de sobreviver à distancia? Juntos, eles se sufocaram, mas agora, há meses sem se ver, era a saudades que apertava. O mais fácil, talvez, seria chegar em casa e rabiscar sobre as mesmas infelicidades de sempre. O caderno entenderia, o lápis seria seu cúmplice. Mas as insistentes respostas fáceis e mentirosas já não mais surtiam efeito. De fato, ela perdera a pretensão de encontrar a verdade.

Distantes, eles não se preocupavam em acertar, muito menos se questionavam sobre o rumo das palavras. Apenas diziam e sentiam, agindo com a mente e o coração distraídos. Possuíam o único privilégio de quem olha para os tempos que já passaram, o de ver com muito mais brilho os momentos mágicos. Aqueles que se tornam inesquecíveis.

É claro. A repulsão não estava nos sentimentos de ambos. Encontrava-se na falta de sintonia entre o apego e a concentração. Para viverem juntos, era preciso deixar acontecer, soltar, distrair. Próximos, teimavam em ver cada detalhe do Monet, bem de perto. Saudosos, davam um passo atrás.

Um comentário:

Anônimo disse...

and so it is... just like she said it would...
kisses